Queria ter asas e poder voar para visitar o céu, admirando a paisagem de cima onde as casas não passariam de pequenos pontos do grande quadro pintado por Deus.
Queria poder tocar as nuves e constatar (ou não) que são realmente feitas de algodão e de que é possível guardá-las em algum lugar e por tempo indeterminado.
Queria não precisar sentir saudade, essa prova de amor que muitas vezes se confunde em dor física e em lágrimas.
Queria que a minha fé na espiritualidade fosse tão mais forte a ponto de entender todas essas tragédias sem essa sensação de injustiça que me invade, cada vez que meu pranto tenta expressar a tristeza em ver tantas perdas.
Queria ter mais malícia e enxergar a maldade nas pessoas, sem precisar levar um choque cada vez que percebo que são apenas, "humanas" e portanto, passíveis de erros como eu.
Queria poder olhar mais para mim e para algumas feridas que eu fiz questão de esquecer, mas que nem por isso cicatrizaram.
Queria encontrar mais pureza no mundo, mais crianças em nós e participar de mais conversas onde pessoas elogiam pessoas, já que é tão mais fácil apontar os erros.
Queria que o dia tivesse 30 horas e que conseguíssemos engarrafar o cheiro das pessoas queridas.
Queria inventar menos desculpas para ajudar as pessoas e jamais achar que o que faço é muito porque ainda há tanto para desenvolver em mim.
Sou viajante no tempo, cercada de palavras e de gestos repetidos que nasceram em uma outra vida e que precisam ser superados.
E carrego o sopro do amor Divino.
Queria poder ver todos os anjos que Deus envia para me auxiliar e sentir (de fato) todas as vezes em que ele me coloca no colo e diz que eu ainda tenho jeito e só preciso de mais coragem.
Queria mais coragem para o mudar o tempo do verbo que começa essas frases e transformar tudo isso em ação.
Mesmo que não dê (mesmo) para voar e guardar as nuvens.
Ainda assim que queria ter asas...
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