Existe um momento em que precisamos desistir de determinadas coisas. Um momento em que a situação se torna insustentável e que não há como "ganhar" mais nada se não retirarmos da nossa vida (mesmo que temporariamente) algumas coisas que atrapalham as mudanças necessárias para nosso desenvolvimento.
Às vezes essas coisas nada mais são que "pessoas" e, independente de possíveis laços sanguíneos, precisam ser deixadas de lado para nos prepararmos para algo maior.
Particularmente tive esse momento com a minha mãe. Um doloroso momento em que precisamos desistir uma da outra para nos reencontrarmos mais amadurecidas.
Vale ressaltar que desistir de uma pessoa nada tem a ver com retirá-la da sua vida para sempre, com maltratá-la ou parar de falar com ela e sim com se distanciar estrategicamente para dar espaço à sentimentos mais especiais.
Minha mãe não me aceitava de forma nenhuma, ela possuía planos e padrões específicos nos quais eu não conseguia me enquadrar. Ao invés de conversar com ela e dizer que pensava diferente, eu preferia gritar, brigar, bater a porta...
Demorei a entender que ninguém ouve uma pessoa que grita e isso aconteceu muitas vezes até que desistimos de gritar uma com a outra, de brigar uma com a outra e de acreditar uma na outra.
Quando percebi isso, sofri demais porque eu queria que ela me aceitasse como sou, queria que ela me respeitasse como sou, mas se eu mesma não respeitava o que ela pensava, como poderia exigir essa atitude dela?
Nós somos assim, queremos que as pessoas nos aceitem, nos respeitem, mas vivemos com padrões tão específicos quanto aqueles que nos tentam empurrar goela abaixo.
Anos se passaram desde que desistimos uma da outra. Nesse tempo, trabalhamos duramente para aprender a respeitar as diferenças e dar espaço para um sentimento nobre e verdadeiro.
Quando nós nem acreditávamos que fosse possível uma reaproximação, Deus fez o milagre acontecer e passamos os últimos anos, mais unidos que nunca. Tivemos momentos mágicos juntas, falamos tudo aquilo que era necessário falar e, quando precisei entrar no INCA e ficar com ela, não existia mais mágoa, apenas amor.
Foi o amor que nos fez desistir de brigar, que nos ensinou a respeitar os espaços e os pensamentos que tanto divergiam. Foi o amor que nos fez ir dormir chorando brigadas e nos conduziu até aquele abraço, uma semana antes da sua partida, quando ela me olhou com os olhos brilhando e disse que eu havia sido um lindo presente e que ter tido a oportunidade de conviver comigo e com meu irmão tinha feito dela uma pessoa muito melhor. Foi com o coração repleto de amor que a ouvi dizer que ela se orgulhava da filha repleta de valores que ela havia criado.
A última frase que ouvi da minha mãe foi: Eu te amo.
Valeu a pena desistir das coisas pequenas, para ganhar a imensidão dos momentos especiais que Deus havia reservado para nós, mas para os quais não estávamos nada preparadas.
Se precisar desistir de alguém, faça.
Trabalhe seu coração, seus sentimentos e seus pensamentos.
O milagre sempre acontece, basta esperar.