É mais fácil ser igual. É simples. Mas quando se decide seguir o coração, ainda que o caminho apresente obstáculos, tudo passa a fazer sentido!

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Sobre as asas quebradas.




Tenho vivido com a dor,
Perdi o ar angelical,

Já tenho outro olhar, e outra cor.
E sem cordão umbilical.

A separação definitiva.
Trouxe-me nova companhia
Oscilo entre serena e aflita.
Vivendo dia a dia.

E assim continuo o caminho,
Sem pressa, sem ansiedade.
Cercada de boas lembranças,
De imagens de infância e de muita saudade.

Sigo lentamente na estrada,
Refazendo sonhos, ganhando sentido.
Com lágrimas, de alma rasgada.
Eu olho a alvorada e faço um pedido

Que os anjos estejam comigo
Que um colo, um amigo
Não cheguem a faltar.

Que eu volte correndo pra casa
Que eu cure as asas
E volte a voar.

sábado, 27 de agosto de 2011

Sobre a morte e a dor do adeus.

Estava tudo indo relativamente bem. O casamento, o trabalho, os estudos e até mesmo a vida espiritual estava sendo organizada e tudo que eu precisava era esperar o fim do ano para colocar uma beca e tirar umas fotos com mamãe.
Até que...
Tudo mudou...
A formatura vai acontecer, mas sem beca e mamãe também não sairá mais nas fotos.
A vida é mudança, constante. Tudo muda o tempo inteiro, trazendo lições e levando embora as já aprendidas. No meio desse processo de se despedir das coisas e de receber tantas outras novas existe um momento denominado: DOR.
A dor, geralmente vem acompanhada de algo que foi retirado de nós, seja temporária ou definitivamente e precisa de tempo para ser administrada.
Meu momento de dor veio acompanhado da morte da minha linda mãe. A guerreira que eu tive o privilégio de ter conhecido, amado, brigado (normal, né?) e com a qual eu aprendi umas das lições mais preciosas da minha vida: O desapego.
Minha mãe possuía uma extraordinária capacidade de se desapegar das coisas e isso incluía uma dose concentrada de caridade. Ela dava tudo para todo mundo. Se alguém não tivesse dinheiro para fazer um bolinho para o filho no aniversário, bastava contar esse pequeno problema para ela e tudo automaticamente estava resolvido. E eu fui crescendo com um sem número de bolos de aniversários feitos com tanto carinho e zelo para muitas crianças, orfanatos, vizinhos, amigos... Ela dava roupas também e tudo o mais que estivesse vestindo. Bastava alguém elogiar e ela tirava do braço a pulseira, o anel, o relógio, a blusa, a bolsa. E ficava satisfeita da vida. 
É claro que ela exigia um pagamento por isso: Bastava dizer que o bolo tinha sido um sucesso (e repetir, Ah. Como ela adorava quando as pessoas repetiam os elogios), que ninguém nunca havia comido salgadinhos tão especiais e que o presente que acabara de receber era exatamente aquilo que a pessoa esperava há séculos. Os olhos dela brilhavam e ela falava nisso por horas.
Ela era briguenta também, adorava falar com os gerentes nos restaurantes, parava de falar com os vizinhos (e isso durava de cinco à dez minutos) e depois, lá ia ela com um pedacinho de bolo fazer as pazes. Ela tinha uma capacidade para fazer as pazes!
Era autêntica, cheia de personalidade, inteligente, viajada, espirituosa, cheia de amor pelos filhos, pela mãe, pelo marido, pelos irmãos de crença, pela vida.
Ela venceu o primeiro câncer como quem vence uma gripe. Era um acontecimento no INCA quando ela chegava com seus lenços coloridos e bordados ensinando receitas e fazendo amizades.
Ela fez muitos amigos. 
Era extremamente fácil gostar daquele jeitinho doido de ser que chegava e se fazia notar pela timbre alto da voz e pela vontade de ajudar as pessoas.
Brigamos muitas vezes. Porque eu demorei a entender que esse jeito dela era o que a tornava ainda mais especial e que não ia adiantar querer que fosse igual à minha vó.
E porque ela também demorou a entender que minha opção era por amor.
E de repente essa pessoa que enchia a casa passou mal e os sinais de que algo de grave estava acontecendo foram muitos. O sorriso aberto foi substituído por um amarelado, repleto de medo. 
Hoje, percebo que ela sabia o que estava acontecendo e já estava se despedindo.
Eu também sabia.
E também estava morrendo de medo.
E foi com esse medo que entrei no INCA com ela no colo no dia 14/08. Ele também me acompanhou nas cinco noites posteriores quando eu velei seu sono e fiquei atenta à sua respiração.
Não havia mais sorrisos, mais receitas, mas ela estava ali e era tudo que eu tinha.
E o medo foi indo embora noite após noite, diminuindo e dando espaço para uma dor que quase se tornou física.
Vê-la ir embora foi a pior cena de toda minha vida, ainda que eu soubesse que ela estava em paz e que não estava sentindo dor.
Eu estava.
Quase enlouqueci naquela manhã de sábado quando a vi passar coberta.
Quando precisei sepultá-la, na tarde do mesmo dia.
E hoje, quando precisei colocar suas roupas em sacos pretos para doação.
Pensei que seria menos difícil.
E que doeria menos, já que tivemos tempo para nos despedir e eu consegui falar tudo que eu precisava.
Pensei que eu conseguiria dizer adeus com mais facilidade.
Mas, de repente lembrei da mãe que ela foi, da pessoa que ela foi, da quantidade de amigos que estiveram lá para prestar uma última homenagem, da salva de palmas, da música...
E cheguei à conclusão de que seria impossível passar pela perda de uma pessoa tão extraordinária, facilmente.
Que seja difícil então, que seja enlouquecedor.
Mas que seja essa a dor que me fortalecerá para colocar em prática, as lições de caridade que ela me ensinou.
Obrigada, mãe!
Por ter sido meu anjo da guarda por tanto tempo!



domingo, 14 de agosto de 2011

Sobre as etapas.


Você tem um sonho, não é? Trocar de carro no fim do ano, comprar seu apartamento, fazer aquele curso naquela instituição super bem conceituada, conquistar alguém, ter um filho, escrever um livro, ser feliz...
Não importa qual seja o seu sonho, você sabe que é ele quem te move pelas estradas da vida e é o responsável por recarregar as baterias quando tudo parece perdido.
Um sonho pode aquecer o coração e fazer uma simples noite de sono se transformar na melhor noite já vivida.
Mas é claro que você já entendeu que um sonho não acontece assim, por acaso, e não é realizado da noite para o dia. Existe um espaço de tempo que separa o sonho da realização e, nesse espaço, estão as etapas que você precisa superar para ser merecedora dele.
E você percebe que para ter um carro novo precisa economizar em algumas coisas, que aquele curso especial requer algumas doses a mais de concentração e estudo, que para uma criança nascer é preciso passar pelos 9 meses de barriga crescendo e de medo dentro de você sobre a responsabilidade na formação do caráter de uma pessoa e ser feliz tem muito mais a ver com momentos especiais que você consegue aproveitar do que estar em estado de felicidade o tempo todo.
E você começa a agradecer pelas etapas vencidas com a mesma intensidade que teria ao agradecer pela graça alcançada. Passa a valorizar o total da poupança, mesmo que seja pequeno, a barriga que você jura que já dá para ver, a matrícula no curso e as noites de sábado em frente ao computador, um telefonema, uma voz especial...
E de repente agradecer vira um hábito para você, porque você reconhece o agir de Deus em todos os momentos, mesmo naqueles em que você julga ter perdido tudo e entende, também, que os sonhos Dele podem ser um pouco diferentes e é importante que você também esteja preparado para ajustar seu sonho à sua realidade.
Talvez você não possa comprar a Ferrari, o curso terá que ser feito em uma instituição similar, o bebê pode não ser uma menina como você sonhava, a pessoa está numa fase diferente da sua...
Diante disso, o que você faz?
Desiste?
Claro que não, não é?
Você simplesmente olha para trás, observa a quantidade de etapas que já venceu, sente seu coração aquecido e percebe que continuará agradecendo por tudo.
E você passa a entender que o milagre da realização acontece em todas as etapas e que você é vitorioso por tudo que conseguiu vencer (e deixar) para receber o seu presente.
Sabe que as lágrimas tem tudo a ver com sonhos porque elas lavam a sua alma e purificam suas lembranças. 
E percebe que realizar um sonho não é tão difícil assim porque consegue se olhar no espelho e constatar que para você estar aqui, alguém precisou sonhar primeiro. E venceu todas as etapas.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Sobre o inverno e o frio.



O inverno é uma estação charmosa, onde retiramos os casacos do armário, enfeitamos o visual com cachecóis, tentando colorir os dias que se tornam cinzas.
Demoramos para acordar, para entrar no banho, para sair dele e colocar as roupas quentes e é claro que trocamos tudo isso por um abraço quente e um colo gostoso.
Inverno é tempo de tomar chás, de reunir os amigos (e o amor) para comer fondue. É tempo de filmes debaixo do edredon, de chuva caindo no meio da tarde com as gotas invadindo a janela e de movimentos encolhidos. O curioso é constatar que a chuva que cai e "atrapalha" a nossa volta para casa é a mesma que faz as sementes germinarem.
O inverno não acontece apenas nas estações climáticas que nos visitam no decorrer do ano. Acontecem na nossa alma, a cada ciclo que se abre.
Por quantos invernos você já passou?
Quantas vezes você já se encolheu do frio que sentiu no seu próprio coração, diferente do frio da noite que pode ser diminuído com chocolate quente. 
Quando nossa alma passa pelo inverno, ela precisa de colo e de carinho, de uma echarpe diferente, de mimos e meias quentinhas. Precisa de uma atenção especial, de um telefonema, de um abraço.
Precisa de cores e de lágrimas caindo como chuva para limpar o coração. 
Nosso inverno é tempo de entender os valores das pessoas que estão aqui, ao nosso lado, de sentir a dor daqueles que já se foram, de enfrentar os problemas, de curar as feridas que doem mais nas noites frias.
E de preparar o coração para momentos mais quentinhos quando a próxima estação chegar, trazendo as flores para perfumar a alma que passou pelo inverno e ficou mais forte.